domingo, 26 de agosto de 2007

Classificados Personalizados

Só aqui você encontra tudo que um cidadão globalizado necessita.

Personal Trainer.
Profissional altamente qualificada. Crio programas de exercícios individualizados. Programas especiais, com desconto, para preparar a chegada do verão. Entre naquele tão sonhado biquíni.

Personal Stylist.
Consultoria de moda. Renove seu guarda-roupa com estilo, compre tudo novo. Ajudo você a criar um guarda roupa pessoal, com todas as tendências da moda.

Personal Diet.
Ainda não conseguiu entrar naquele biquininho tão sonhado? Ajudamos você a entrar em forma. Acompanhamento individual. Desconto na primeira mensalidade.

Personal Friend.
Tenha alguém para conversar e trocar confidencias. Para os momentos difíceis ou amenidades do dia a dia, alugue um ombro amigo e confira os resultados de um trabalho profissional. Aceito todos os cartões de crédito.

Personal Dog Trainer.
Treinamento e adestramento de cachorros. Se você já se esforçou tanto para ficar magrinha, porque andar com um cachorro rechonchudo? Desconto de 10% no segundo cachorro.

Personal Coach.
Invista na sua carreira. Crie metas trace objetivos e conquiste aquela tão sonhada promoção. Ganhe mais dinheiro. Entre em contato ar saber sobre as formas de pagamento.

Personal Chef.
Sirva um jantar saboroso e receba seus “Personal Friends” em grande estilo. Cardápios variados e deliciosos. È impossível resistir a estas delicias. Aceito cheque para 30 dias.

Personal Finance Services.
Consultoria financeira. Ajudamos você a colocar suas finanças em ordem. Pague todos os seus personais em dia. Nós organizamos suas finanças para você ter dinheiro para pagar a nossa conta.

Personal Eater.
Está de dieta e vai dar uma festa? Eu como para você tudo aquilo que você não pode. Não engorde, não se esbalde, eu tenho o prazer de fazer isso por você. Em jantares com coquetel, entrada, primeiro e segundo prato como sua sobremesa de graça.

Personal Worker.
Trabalho por você. Se você é ocupado demais para fazer o seu próprio trabalho não se preocupe, eu posso fazer por você. Aprecie a vida enquanto eu trabalho cobrando apenas uma taxa 60% do seu salário.

Personal Family.
Tenha sua própria família alugada e se livre das reclamações, exigências e loucuras da sua própria família. Nós amaremos você incondicionalmente do primeiro ao ultimo pagamento.

Personal Personal.
Novidade no mercado. Seja o primeiro a ter um. Profissional qualificado freqüenta todos os seus compromissos com seu Personais por você. Melhore o seu desempenho! Garantimos o resultado até o verão entramos no seu biquíni por você!!!!


Sílvia Lhullier
Personal Blogger

domingo, 19 de agosto de 2007

Sobre Meias

Meias:
Elas teoricamente andam em par. Noé poderia ter organizado meias ao invés de animais. Um par de meias de cada espécie: três quartos, sete oitavos, finas, esportivas, sociais, sintéticas, de algodão, “antiderrapantes” e soquetes, todas entrando na gaveta de par em par. Enroladinhas, dobradas ou em bolinhas o casal de meias se aconchega nas gavetas. Mas algo acontece entre o cesto de roupa suja e o varal, pés de meias desaparecem, abandonando seus pares à solidão. Cansados de seus companheiros fedidos e encardidos alguns pés de meia fogem do cesto, pulam para fora da maquina, ou voam do varal. Outros são seqüestrados por animais caninos de apetite voraz e preferência por pés “chulezentos”. Nos desaparecimentos mais misteriosos ninguém sabe como sumiram, ou para onde foram os pés, se viraram trapos perdidos, se sumiram para sempre, ou se continuam a andar por ai com outros pés em outro pé. Sobram na gaveta os pés abandonados, desquitados e viúvos que se vêem frente ao desafio de achar um novo companheiro. Sabem que se não tiverem sucesso podem ser descartados e esquecidos. As meias só se reconhecem como meias quando acompanhadas de seu par, saem da fábrica como um par, nas embalagens das lojas são um par, o seu preço é o de um par. Nenhuma meia quer se sentir meia meia. Paquerando nas gavetas as meias tentam combinar novos padrões, coordenar novas cores, descobrir outros desenhos. Novos pares se formam em combinações inusitadas e experiências impares. Talvez você me encontre andando por ai com uma meia de bolinha e outra listrada, uma verde e a outra laranja, uma três quartos e outra soquete. Por de baixo das roupas existe um universo secreto. Será que realmente sabemos por onde andam as nossas meias?

Sílvia Lhullier
Toda segunda algo novo de novo.

domingo, 12 de agosto de 2007

Coração Atravessado!

O espeto cheio de carne, colocado a frente de uma mocinha tão magrinha com olhos grandes e pretos, fixos naquela enorme pedaço de picanha, o suor escorria de seu rosto como se a carne saísse de seus poros, ela gentilmente diz não com a cabeça e consegue suspirar um “Obrigada”. O garçom tira de sua frente o espeto deixando transparecer a sua decepção através de um leve aceno de cabeça e espremendo os lábios, como quem aprisiona um desaforo para que não escape de sua boca, olha nos olhos da moça. Ficam os dois olhando um nos olhos do outro. Um encarando o outro. Um desafiando o outro!

Ele: garçom legitimamente gaúcho, aliás o último garçom realmente gaúcho daquela churrascaria de rodízio em São Paulo. Estava condenado a servir carne para moças magrinhas que só querem saber de comer picanha, e coração de galinha. “Eu aceito coraçãozinho suspiram ao pedir”. E quando ele passa com o espeto de cupim todas elas fazem cara feia e não querem saber da sua carne. Por que o único gaúcho fica sempre com o espeto que as moças não querem? Ele passava primeiro com o cupim, depois com o javali e finalmente com o ultimo insulto a moças tão delicadas; a lingüiça calabresa. Naquele dia ele falou com o gerente e disse que se não ficasse responsável pelos espetos de picanha e de coraçãozinho se demitiria. Ao gerente não sobrou alternativa a não ser fazer a vontade de um garçom tão temperamental.

Ela: mocinha paulista e magrinha não era adepta de nenhuma dieta, era como muitos chamavam: “Magra de ruim”, apesar da ruindade na magreza tudo o que ela queria era agradar os outros. Ela era uma “agradadora” incurável, para ela um olhar que mostrasse qualquer sombra de decepção era como se um espeto atravessasse o seu coração. Sentada a mesa do restaurante após comer sua salada com direito a alface, palmito, azeitona e queijo viu passar o garçom gaúcho com o espeto de coração aceitou contente e pediu que a servisse. O garçom feliz por pela primeira vez conseguir agradar uma mocinha paulista começou a servir, desceu pelo espeto seis de uma vez e logo mais seis, a mocinha fez um gesto com a mão, mas ele continuou e desceu mais seis pelo espeto, ela pediu que parasse e ele parou, logo após descer mais alguns e acabar com o espeto inteiro.

Ela começou a comer aquela montanha de corações, aceitou de outros garçons um pouco de batata frita, um pedaço de filé mignon, e até uma fatia de maminha. Quando o Gaúcho voltou a sua mesa trazia o seu grande trunfo, o espeto de picanha, ela aceitou uma fatia, ele serviu quatro e continuou servindo até que viu que ela só havia comido metade dos corações, ele deu um suspiro e olhou bem nos olhos da moça com um ar de reprovação. Ela sentindo toda aquela repressão comeu não só todos os corações como também a picanha e tudo mais que havia no prato. Nem havia terminado direito e lá estava o garçom novamente, desta vez com um espeto de costelinha e um olhar ameaçador. Ela nem pensou em recusar. Ele serviu quatro de uma vez e só deixou a mesa quando ela começou a comer. Enquanto servia outras mesas ele lançava olhares vigilantes pra a mesa dela, e ela comia temendo qualquer reprovação dele. Assim ela comeu mais picanha, mais coração, mais costelinha e outras carnes que o garçom trazia especialmente para ela. Já não sabia mais quantas vezes o espeto de picanha havia passado, tinha dor nas suas costelinhas e o coração já não tinha mais espaço para suspirar.

E então ele estava lá imóvel, olhando nos olhos da moça que recusava a picanha. Como ela podia recusar a picanha? Logo a picanha? Chega ele não aceitaria mais desaforo de menininha fresca!

Ela não tirava os olhos fixos do garçom, agora ela tinha decidido e não mudaria de opinião. Chega ela não aceitaria nem mais uma fatia! Não tinha mais medo de olhares e muito menos de espetos, nem mesmo dos que atravessam picanhas, costelas e corações!

Um olhava fundo nos olhos do outro. Nenhum dos dois estava disposto a ceder. E todo o restaurante naquele exato minuto parou de respirar olhando aquela cena e imaginando quem sairia vencedor daquela batalha. Ninguém entendia exatamente o que estava acontecendo ou porque os dois se encaravam daquele jeito, mas sabiam que alguém sairia vencedor. E enquanto um tentava vencer o outro num duelo silencioso, o que ninguém esperava aconteceu, a pressão no salão era tão grande que as bombas do carrinho de sobremesa não agüentaram e explodiram. Não houve tempo para ninguém se proteger com guardanapos, pratos ou bandejas. Todos ficaram cobertos com destroços de chocolate. O rapaz do carinho de sobremesa no meio daquele desastre perdeu a direção, um pudim voou pelo espaço e acertou uma senhora na cara, tortas e bolos derrapavam pelo chão, criando uma pista escorregadia por onde o carrinho deslizava sem freio até acertar o Gaúcho. Ele caiu desarmado no chão, seu espeto saiu voando pelo salão com uma melancia espetada na ponta. O espeto acabou aterrissando com segurança em uma mesa vizinha, ninguém ficou ferido, a melancia entretanto despedaçou-se inteira.

O gaúcho agora vive uma vida mais tranqüila, trabalha em um rodízio de pizzas. De mussarela, em mussarela ele vai levando a vida. Desistiu de agradar as moças paulistas. Agora seu passatempo preferido é rir e imitar a cara que elas fazem quando ele passa com a pizza portuguesa, com aqueles ovos cozidos enormes. Ele coloca a pizza bem na cara delas, elas entortam os lábios, franzem a testa e viram a cara. Mas ele não se importa que nenhuma delas queira saber de seus ovos.


Até semana que vem!
Sílvia Lhullier

domingo, 5 de agosto de 2007

Tem coisa que só funciona assim!

- Alô?
- Alô, gostaria de falar com a Sílvia. A Clara minha amiga falou que ela ta precisando de alguém pra trabalhar...
- Ah sim...
- A Cíntia!
-Não eu falei “ah sim” e não Cíntia!
-È Cíntia sim!
-Não, não tem nenhuma Cíntia aqui! Só Silvia.
-Sim, eu quero falar com a Sílvia!
-Ah! A Sílvia.
-Sim. Dona Silvia?
- Não aqui não é a Sílvia, é a irmã dela a Ana.
-Ah, não!
-Isso mesmo Ana.
-Mas e a Sílvia?
-Sim?
-Mas não é a irmã dela?
-Sim. Eu perguntei assim: Sim o que você quer saber?
-Ah Sim! Ela esta?
-Não.
-Ah Sim!
-Não ela saiu!
-Ah Não, eu disse assim: Ah Sim, ela Saiu!
-Isso eu sou a Ana irmã da Silvia. A Sílvia saiu!
-Não, eu disse assim: ah não! .... E não Ana!
-Mas aqui é a Ana!
-Sim mas e a Sílvia?
-Não sou eu!
-Sim mas ela volta ainda hoje?
-Ah sim! Volta de noite!
-Você pode anotar um recado para ela?
-Claro.
-Não aqui é a amiga da Clara, não a Clara.
-Não, eu disse Claro.
-Ah sim!
-Sim?
-O que?
-Sim o recado! Qual é?
- Você pede para ela me ligar assim que chegar?
-Ah sim, claro!
- Isso mesmo! É para ela ligar para a Cíntia amiga da Clara!

Ah sim! Até semana que vem!
Sílvia Lhullier